ALTERAÇÕES COMUNS NO CORAÇÃO DO ATLETA POR CAUSA DO EXERCÍCIO
Olá, leitores! Espero que todos estejam bem. Sou o Dr. Danilo Pereira, médico especialista em Medicina Esportiva. No artigo de hoje, vamos discutir sobre a diferenciação entre o coração de um atleta e as adaptações que o exercício pode promover nesse órgão. Além disso, abordaremos quando essas adaptações podem indicar alguma doença. Se você tem interesse nesse tema, continue lendo.
Antes de tudo, é importante compreender que o músculo do coração, chamado de miocárdio, é um tipo de músculo esquelético, assim como os músculos do bíceps e do glúteo. Assim como esses músculos, o miocárdio pode hipertrofiar e responder ao exercício físico. No entanto, é necessário destacar que essas alterações são organizadas, controladas e harmônicas. Por outro lado, existem alterações descontroladas e desarmoniosas que podem indicar a presença de uma doença cardíaca.
É preciso entender que a diferenciação entre adaptação e doença pode ser um desafio. A área cinzenta nesse contexto é onde os profissionais da cardiologia esportiva e da medicina esportiva enfrentam dificuldades para distinguir entre doença e adaptação. Portanto, vamos explorar alguns detalhes que podem nos auxiliar nessa diferenciação.
Em primeiro lugar, é importante destacar que o exercício físico pode tratar diversas doenças. Existem mais de 40 doenças crônicas relacionadas ao sedentarismo e à falta de exercício físico. No entanto, surge a pergunta: o exercício físico pode causar doenças? A resposta é complexa. No artigo anterior sobre esse tema, mencionei algumas condições, como dores musculares, patologias e fraturas por estresse relacionadas ao contexto muscular.
No entanto, o exercício físico traz benefícios significativos para o coração e a circulação. Quando nos levantamos, trocamos de roupa e começamos a correr, exigimos mais do nosso coração. Isso faz com que o coração bata mais vezes por minuto e de maneira mais vigorosa em cada batida. Essa demanda aumentada resulta no aumento do débito cardíaco, que é a quantidade de sangue que o coração bombeia por batimento. Durante o pós-exercício, o coração e os vasos sanguíneos passam por adaptações que facilitam esse trabalho. Essas adaptações são uma das razões pelas quais pessoas fisicamente ativas tendem a ter uma expectativa de vida mais longa.
Uma das alterações que ocorrem no coração do atleta é a bradicardia, que significa uma frequência cardíaca mais baixa. Na população em geral, a frequência cardíaca normalmente varia entre 60 e 100 batimentos por minuto. Porém, em pessoas que praticam exercícios físicos regularmente, é comum que a frequência cardíaca esteja mais próxima desse limite inferior, chegando até a menos de 50 batimentos por minuto. Em termos simples, se uma máquina bate menos vezes por minuto, sua vida útil tende a ser mais longa. No ent
anto, a bradicardia sinusal, como é chamada, é um ponto delicado de diferenciação entre adaptação ao exercício e doença cardíaca.
A bradicardia sinusal é resultado da ativação do sistema parassimpático, que tem ação relaxante. Em pessoas fisicamente ativas, esse sistema está mais ativo, em contraste com o sistema simpático, que é mais ativado durante o exercício. Esse equilíbrio entre os sistemas é favorável para a saúde cardiovascular. No entanto, em indivíduos sedentários ou com doenças crônicas e comorbidades, o sistema simpático pode estar cronicamente mais ativado, enquanto o parassimpático fica mais inibido. Esse desequilíbrio tem implicações negativas na autonomia, funcionalidade e desempenho do coração. No contexto do coração do atleta, a ativação do parassimpático pode resultar em alterações elétricas, detectáveis por eletrocardiograma (ECG), além de alterações estruturais e funcionais avaliadas por exames como ecocardiograma e teste ergométrico, ou mesmo o padrão ouro, o teste cardiopulmonar.
Essas alterações podem ultrapassar os limites considerados normais e adentrar a chamada zona cinzenta. Na medicina esportiva, o diagnóstico e as condutas são como um quebra-cabeça. Quanto mais peças desse quebra-cabeça tivermos, melhor será nossa visão desse quadro. Para garantir a segurança tanto do paciente quanto do profissional, é necessário analisar os sintomas cardiovasculares, como dor no peito, falta de ar, tonturas durante o pico do esforço e fadiga desproporcional à intensidade do exercício. Esses são sinais de alerta que nos levam a progredir na investigação, analisando a anatomia, procurando por arritmias induzidas, avaliando a função cardíaca durante o esforço. Em resumo, a avaliação para participação em exercícios físicos regulares envolve três componentes essenciais: frequência cardíaca, peso corporal e exames laboratoriais. Os exames de imagem cardiovascular, como ecocardiograma, ajudam a distinguir entre as alterações elétricas, estruturais e funcionais decorrentes do exercício físico e as relacionadas a doenças cardíacas.
Uma dica importante para diferenciar se uma alteração é decorrente do exercício físico ou de uma doença é observar se ela desaparece quando a prática de exercícios é interrompida. Se a alteração persistir mesmo após a interrupção do exercício, isso pode indicar a presença de algum problema cardíaco.
Existem várias doenças que podem estar na zona cinzenta e serem confundidas com adaptações do coração do atleta. Entre essas doenças, destacam-se a doença coronariana, que é mais comum em indivíduos com mais de 35 anos e está associada ao risco de infarto. Pacientes com menos de 35 anos podem apresentar cardiomiopatia hipertrófica, cardiopatia arritmogênica, origem anômala de coronárias e mi
ocardite, que pode ser causada por infecções virais, como a COVID-19. Portanto, é recomendado que pessoas que tiveram COVID-19, principalmente se o quadro foi grave e exigiu internação hospitalar, passem por uma avaliação prévia antes de retomarem ou iniciarem a prática esportiva.
É importante ressaltar que nem toda morte súbita está relacionada a um infarto. Existem diversas outras doenças que podem se manifestar ou progredir com a prática de exercícios físicos. Portanto, se você deseja iniciar uma prática regular de exercícios físicos ou se já está envolvido em modalidades esportivas, especialmente se estiver treinando em alta intensidade ou com volumes de treino elevados, é fundamental buscar segurança e proteção. Avaliações prévias são essenciais para garantir a saúde e o bem-estar, tanto do paciente quanto do profissional.
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